La La Land – Melodia de Amor (Review)

Pensei fazer desta review um número cantado, ou pelo menos em verso, mas achei que seria mais acertado uma análise “extensa”, porque de análises de um parágrafo estão outros órgãos de comunicação social cheios…

 

Título Original: La La Land

Ano: 2016

Realizador: Damien Chazelle

Cinematografia: Linus Sandgren

Produção: Fred Berger, Gary Gilbert, Jordan Horowitz, Marc Platt

Argumento: Damien Chazelle

Actores:  Ryan Gosling, Emma Stone, Rosemarie DeWitt

Música: Justin Hurwitz

Género: Comédia, Drama, Musical

 

O género musical pode tornar-se um pesadelo, mas depois de tantas críticas positivas e da nomeação para os óscares era imprescindível tentar perceber a magia de La La Land e o porquê da sua popularidade. Não sendo fã deste género, os meus musicais favoritos limitam-se a duas ou três escolhas, e umas quantas outras por ver. O Fantasma da Ópera (2004) e Sweeney Todd: O Terrível Barbeiro de Fleet Street (2007) são talvez os meus musicais favoritos, seguidos depois pelo “guilty pleasure” Moulin Rouge! (2001). Posto isto, há também um estilo de musical que odeio e cujo o exemplo está claramente vincado em Les Misérables (2012), que me dá sinceramente algumas dores de cabeça durante todo o seu visionamento ao ponto de ser mais fácil evitar a vertente musical e assistir a Os Miseráveis (1998) com excelentes performances de Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman.

La la Land parece ter acertado em cheio em trazer à vida o que se chamaria um musical clássico, sem que para isso o filme seja 90% cantado. Há música onde é necessário, não dispensando o nonsense normal deste tipo de filme. Começando com um número musical no meio do trânsito depressa apresenta duas personagens que se envolvem romanticamente, fruto dos seus infortúnios, tristezas e sonhos. A história centra-se nesta relação entre os dois protagonistas e fala, principalmente, de sacrifício e de que não é possível atingir tudo o que queremos, sem descurar de outras dimensões da nossa vida. É uma narrativa onde a própria audiência tem um vislumbre significativo sobre o que “poderia ter sido”, tendo bem assente que na vida não se pode voltar atrás.

Dividido por quatro partes distintas, que representam as estações do ano, a cor é também parte fundamental a expressar as ideias de cada um destes actos. A cor é vibrante, rica, e de certo modo espelha uma era de Hollywood há muito desaparecida. A conjugação da realização, com uma cinematografia nostálgica e o trabalho de um departamento de guarda-roupa atencioso, torna possível destacar elementos e contribuir para uma ambiência mágica. Com o humor do filme a mudar em cada acto, é fascinante perceber como a progressão traz novas abordagens à medida que a narrativa avança, em especial no “Outuno”, quando a história toma um rumo mais dramático, e com isso vem as tonalidades escuras, e o guarda-roupa neutro.

Com a etiqueta de musical, muitas são as músicas que ficam no ouvido, no entanto, estes números musicais completam a história, que gira pouco à volta dos mesmos para se destacar. É uma sinergia plena entre narrativa e musical, que pode aproximar as plateias mais cépticas. Um mix de todos os números do filme estão disponível aqui. Destaca-se, no entanto, a natureza cómica e ao mesmo tempo dramática de Audition (Fools Who Dream) e o clássico City of Stars.

Quanto aos actores, embora ambos nomeados para óscar, terão de defrontar uma concorrência muito forte. É certamente difícil que Ryan Gosling leve a estatueta para casa, mas Emma Stone é uma sólida candidata. As performances principais podem perder-se na musicalidade do filme, mas isso não as torna menos dignas de ser recompensados pelo seu trabalho exímio. Já para as estatuetas de melhor realizador, filme e cinematografia La La Land é um candidato provável, especialmente na última.

Com um passo no passado e outro no futuro, La La Land não parece girar em torno de números musicais excêntricos e descabidos, há espaço também para os pequenos easter eggs num reviver do género musical, com toda a dose de modernidade que catapulta este género de filmes para uma nova audiência. É um musical que esconde um romance bem orquestrado, numa narrativa que vai tendo as suas nuances entre a alegria e a tristeza, e que continua a surpreender à medida que se aproxima do fim. Um musical sólido e apaixonante que, na sua essência, se debruça sobre questões importantes, e que não deixaram ninguém indiferente…

8.5

Volto para o próximo mês com mais cinema…