Throwback A 2007- As Canções

2007 foi há dez anos, quem diria? O YouTube começava a ganhar expressão, o streaming ainda não tinha passado da fase de esboço, os downloads legais já representavam uma generosa fatia do consumo de música e as pessoas ainda compravam efectivamente álbuns.

Antes do aparecimento de Lady Gaga, Katy Perry, Bruno Mars, The Weeknd, Drake, Justin Bieber ou Ed Sheeran, reinava ainda a “velha guarda” composta por nomes como Justin Timberlake, Beyoncé, Nelly Furtado ou Avril Lavigne. Que tal recordarmos, por isso, as 13 canções mais influentes desse ano? Permissão de nostalgia concedida:

 

Beyoncé- “Irreplaceable” (B’Day)- To the left, to the left. Honey Bey a despachar trastes de forma triunfal há pelo menos uma década. Terceiro single do seu segundo álbum de estúdio, “Irreplaceable” combinou os talentos de Ne-Yo e dos produtores noruegueses Stargate num imbatível híbrido pop/R&B que funde guitarra acústica com drum machines e violoncelos. Com 10 semanas consecutivas passadas no topo da tabela de singles norte-americana, este valente hino kiss-off permanece como um dos temas de assinatura de Beyoncé.

Nelly Furtado- “Say It Right” (Loose)- Nelly Furtado e Timbaland deviam fazer música juntos para o resto da vida. Não é por acaso que Loose – fulcral para entendermos a pop dos anos 00 – é o seu melhor álbum e “Say It Right” possivelmente a melhor canção do seu percurso: chegou em 2006, popularizou-se em 2007 e em 2008 ainda fazia agitar as águas. E o certo é que há qualquer coisa de mágico e transcendente a seu respeito que ainda não se desvaneceu até hoje.

Justin Timberlake- “What Goes Around… Comes Around” (FutureSex/LoveSounds)- Há dez anos JT estava a redefinir as regras da pop com a ajuda do mesmo parceiro da canção acima (céus, quanta genialidade num só indivíduo) evidente neste profético 3º single da sua obra-prima discográfica, que funciona como a sequela de “Cry Me a River”: a mesma sensação de angústia furiosa, agora mais alarmante, de influência oriental e com o dobro da duração – aquela espectacular secção final ainda nos faz virar o pescoço.

Gwen Stefani feat. Akon- “The Sweet Escape” (The Sweet Escape)- Sentimentos contraditórios em relação a este tema. Significa que o último grande êxito de Miss Stefani data de há uma década – e não é que não tenha tentado ter outros depois disto – e que com ele acabou também a sucessão de vídeos incríveis que vinha a traçar com as suas Harajuku Girls. E nem vamos falar de como Akon se safou com a sua contribuição ridícula de sirene, ok? Pfff.

Avril Lavigne- “Girlfriend” (The Best Damn Thing)- Um dos dias mais tristes dos anos 00 será sempre aquele em que perdemos Avril Lavigne para o lado cor-de-rosa da força. A rebeldia pop punk provou ser uma táctica vencedora, chegando em tempos – muito antes do senhor Psy – o vídeo da canção a ser o mais visto de sempre do YouTube. Mas ignorar “Girlfriend” é esquecer que uma parte de 2007 aconteceu mesmo. Lamentavelmente daqui para a frente seria sempre a descer.

Linkin Park- “What I’ve Done” (Minutes to Midnight)- Para recordarmos a última vez em que os LP foram relevantes para o mundo teremos que recuar até 2007, altura em que se reinventaram com sucesso do anunciado fim dos dias do nu metal. O pungente cartão de visita do seu terceiro álbum tocou nos pontos nevrálgicos certos, potenciado também pela amálgama visual de tópicos sociais, ambientais e figuras históricas condensadas pela poderosa ilustração.

Rihanna- “Umbrella” (Good Girl Gone Bad)- 2007 foi também o ano em que Rihanna se tornou numa superestrela planetária pela infalível divisão silábica da palavra um-bar-ella. Jay-Z abençoou o momento, Tricky Stewart forneceu-lhe uma sólida estrutura pop/R&B, mas o charme é todo dela. Com 10 e 7 semanas consecutivas passadas no topo da tabela de singles britânica e norte-americana, respectivamente, “Umbrella” permanece como um dos maiores monumentos pop dos anos 00.

Fergie- “Big Girls Don’t Cry” (The Dutchess)- Algum tempo antes do aparecimento de Nicki Minaj quem dominava o circuito urbano era Miss Fergie Ferg a.k.a das bombshell dos Black Eyed Peas, que entre 2006 e 2007 atravessava uma formidável metamorfose a solo. A confessional “Big Girls Don’t Cry” será sempre a sua melhor canção: intemporal, inesperada e irrepetível. Não se sabe muito bem como, mas will.i.am produziu-a. Infelizmente não chega para o absolver da valente porcaria que tem assinado para terceiros. #whybritney #burninhell #youcancrynowfergie

Kanye West- “Stronger” (Graduation)- O todo-poderoso Yeezy chamou a si a electrónica no seu terceiro álbum de estúdio, numa bem-sucedida tentativa de elevar o hip hop ao patamar de música de estádio. Construído à base da precisão crónica de Kanye e de um robusto sample de “Harder, Better, Faster, Stronger” dos Daft Punk, “Stronger” redefiniu a face dos anos 00, abriu caminho para mais incursões do género de contemporâneos seus e ainda hoje constitui um dos pilares basilares da sua discografia.

Timbaland ft Keri Hilson- “The Way I Are” (Shock Value)- Por fim o homem de quem tanto se tem falado. A par de operar revoluções na cultura pop através dos “lacaios” Nelly e Justin, Timbaland assumiu em 2007 o papel de mestre de cerimónias da sua própria ópera hip hop. “The Way I Are” – porque há pessoas que se podem dar ao luxo de se safar com erros gramaticais destes – é nada menos que um monstruoso híbrido electro-hop que apontava o futuro, tornado o presente bem mais emocionante. Faria estragos em qualquer década que fosse lançado.

Britney Spears- “Gimme More” (Blackout)- Poderá nascer do caos uma obra-prima? Britney Spears fez-nos acreditar que sim. Corria o ano de 2007 e a então namoradinha da América era um comboio louco sem travões a atravessar um sério meltdown captado em directo pelos tabloides, mas lá arranjou tempo para nos entregar o álbum mais aclamado da sua vida. “Gimme More”, o trepidante cartão de visita, trouxe o inferno para a pista de dança e deu-nos o lendário verso “It’s Britney, b*tch”, tornado catchphrase da cultura pop. Nada perdoa o vídeo catastrófico, no entanto.

Alicia Keys- “No One” (As I Am)- Miss Keys sempre teve uma apetência especial para grandes canções de amor de recorte clássico e intemporal, qual Aretha Franklin dos nossos dias. “No One”, deslumbrante composição R&B/soul de travo pop superiormente cantada, resplandece no seu catálogo por esse mesmo motivo.

Amy Winehouse- “Rehab” (Back to Black)- Ah, a velha e saudosa Amy. Ateado ainda em 2006, “Rehab” foi um fogo que só alastraria no ano seguinte, quando aos louvores de Back to Black se juntaram também as crónicas da vida errante da sua intérprete. Imbuído na melhor tradição da Motown e alinhavado pelo maestro Mark Ronson, o tema seria o responsável pelo boom de uma nova vaga soul em terras de sua majestade que nos traria também Duffy e Adele.

 

Chega de nostalgias por agora. O throwback a 2007 fica por aqui, mas voltaremos a acertar contas com o passado quando revisitarmos os álbuns mais influentes desse ano. Até lá, outras paragens nos esperam.