Os Talent Shows de Canto

Ora seja bem vindo/a à minha crónica de Maio. Depois de duas crónicas extensas a assinalar tanto o Festival da Canção, e os Grammys, como as músicas da Revolução dos Cravos, a deste mês debruça-se sobre algo um pouco menos massudo, mas igualmente interessante, no meu entender.

Neste mês, onde se celebra o dia do Trabalhador e o dia da Mãe, a primeira aparição em Fátima, o fim da 2ª Guerra Mundial, o dia Internacional Contra a Homofobia, o dia da Internet, ente muitos outros, resolvi abordar os talent shows, ou os concursos de talentos de música/canto. Programas como o Ídolos, o Factor X ou o Rising Star. Desde já quero dizer que nunca participei em nenhum (até porque não canto assim tão bem) e portanto, não vou abordar por estar melindrado, ou por querer alguma vingança contra os júris ou os programas em si.

Este tipo de programas começou em 2003, cá em Portugal, com o Ídolos. Este programa era apresentado pela dupla, Sílvia Alberto e Pedro Granger. Estes foram os apresentadores nas duas primeiras edições, 2003 e 2004. Já em 2009, o programa voltou mas com apresentadores e jurados diferentes. Nas duas primeiras edições, o júri era composto por Luís Jardim, Manuel Moura dos Santos, Sofia Morais e Rámon Galarza.

Na terceira edição apresentada pela dupla Cláudia Vieira e João Manzarra, o júri era composto por Manuel Moura dos Santos, Laurent Filipe, Roberta Medina e Pedro Boucherie Mendes.Mas o júri mudou novamente na quinta edição, entraram Pedro Abrunhosa, Tony Carreira e Bárbara Guimarães, saindo Laurent Filipe, Pedro Boucherie Mendes e Roberta Medina. E nesta nova edição, que começou o mês passado (Abril), manteve-se apenas Pedro Boucherie Mendes, das edições anteriores, entrando Paulo Ventura e Maria João Bastos.

Júri da 3ª e 4ª edição do Ídolos
Júri da 3ª e 4ª edição do Ídolos

E continuemos nos jurados. Peço ao/à caro/a leitor/a para reflectir sobre a maioria destes nomes. Alguns deles não têm qualquer ligação à música quer de forma directa, sejam cantores ou músicos, quer de forma indirecta, produtores, agentes. É o caso de Pedro Boucherie Mendes ou Maria João Bastos, por exemplo.

Na minha modesta opinião, não faz sentido pessoas sem uma ligação directa ou indirecta, dentro dos termos que eu referi, serem jurados, embora haja a excepção no caso de serem radialistas/locutores de rádio, como foi o caso de Pedro Ribeiro, no Rising Star. Acho um bocado incompreensível vermos uma actriz a avaliar possíveis futuros cantores profissionais, quando pode não perceber muito sobre a área. Mesmo que saiba bastante, a sua profissão não está ligada à música, mas sim à representação. Mesmo que seja na vertente de saber estar em palco, um cantor experiente poderia colmatar essa característica.

Actual júri do Ídolos
Actual júri do Ídolos

No caso de Pedro Boucherie Mendes, director de conteúdos da SIC, por muito conhecimento que tenha, não é um produtor de música. Normalmente, ou pelo menos idealmente, seriam peritos ou formados em música a avaliar os concorrentes.

Outra das coisas erradas, a meu ver, são as humilhações sistemáticas que vemos aos concorrentes, apenas para efeitos de entretenimento. Neste ponto acho incompreensível gozarem com um concorrente, por ele cantar mal, por ele se vestir desta ou daquela maneira, ou por alguma característica física. Recentemente, foi comentado nas redes sociais um caso de bullying no Ídolos, mas isto não é novidade, existem em todas as edições. Este caso está a ser muito comentado, e fala-se inclusivamente de um processo judicial.

Ora sobre estes casos de bullying de que se fala, acho que não surpreende ninguém, afinal já se vê coisas do género, desde a 1ª edição. E há, inclusivamente, os chamados “cromos”, que de uma ou outra maneira, podem ser considerado bullying. A verdade é que isto tudo é feito em nome do entretenimento, mas há uma pergunta que se impõe, que é: vale tudo em nome das audiências? A meu ver não. Por muito engraçado que possa ser brincar com o desafinar de uma pessoa, ou no caso mais recente com as orelhas de um concorrente, isto não se deve fazer!

Outra das coisas que eu critico é o estilo que tem de ter o vencedor, ou o concorrente deste tipo de programas, nomeadamente no Ídolos, onde a maioria dos vencedores não tinha o estilo que era definido pelos moldes do programa, contudo aí pode ser sempre atribuída a “culpa” aos espectadores que são quem vota nas galas finais.

Dave Grohl talent shows

Mas, o que realmente me irrita é facto dos jurados deste tipo de programas dizerem aos concorrentes se devem, ou não, fazer carreira na música. Como disse há algum tempo Dave Grohl, guitarrista e vocalista da banda norte-americana Foo Fighters, este tipo de concursos “está a destruir a próxima geração de músicos”. Dave Grohl diz que hoje em dia os jovens estão obcecados em ser a próxima estrela. O apelidado “nicest guy of rock and roll”, refere que se deveria continuar a fazer música nas garagens com amigos para se divertirem, dando o exemplo dos Nirvana.

Deixa também uma dura crítica aos jurados que diz que se irrita por haver programas onde “as pessoas são julgadas de forma tão dura por músicos que nem tocam um instrumento nos seus álbuns”.

O antigo baterista dos Nirvana deu também alguns exemplos de cantores emblemáticos actualmente que seriam rejeitados devido a características da sua voz, como é o caso de Bob Dylan ou Neil Young.

RisingStar_Portugal

Sobre o Rising Star, programa da TVI, achei o júri correcto, a forma de eleger o vencedor correcta, mas não gostei da maneira como numa festa do canal, colocaram os últimos quatro concorrentes a fazer playback. Afinal, fazem um programa para mostrar o talento, e escolher um cantor com mérito, e depois põe-nos a fazer playback? Não me parece o mais correcto.

No que diz respeito ao Factor X, mais uma vez a escolha dos jurados, foi bem feita, com pessoas que sabem do que falam, porque fazem realmente parte do mundo da música. É talvez o programa em que a escolha do vencedor se torna mais complicada, pois o formato é feito para encontrar alguém que tenha talento, e que tenha igualmente uma característica particular que faça o concorrente ou o grupo tornar-se numa estrela.

The Voice Portugal

Existem como é sabido outros concursos de talentos de canto, como é o caso da Operação Triunfo e do The Voice Portugal. Sobretudo o The Voice esforça-se para que a escolha do vencedor seja a mais justa e não tem tido polémicas, a não ser a recente vitória de Rui Drummond, que já tinha vencido uma edição da Operação Triunfo.

Correm alguns rumores sobre a viciação dos resultados dos concursos, mas não passam disso mesmo, rumores. Nunca se conseguiu provar nada.

No global, acho que os concursos de canto que se fazem, e fizeram recentemente, em Portugal, deviam ter mais cuidado na escolha dos jurados e sobretudo, no entretenimento que proporcionam aos espectadores. Há sempre a possibilidade de esticarem a corda do bom gosto. E também devem ter cuidado quando colocam os seus concorrentes a fazer coisas, como cantar em playback, porque deitam por terra todo o trabalho que fizeram ao valorizá-los.

Mas não se vá já embora, a partir deste mês no final das minhas crónicas deixo uma, ou duas, sugestões de músicas para ouvir. Estas músicas podem ser mais, ou menos, conhecidas, podem ser tanto de uma banda estrangeira, como de um artista nacional. O que interessa é que sejam boas músicas! As sugestões deste mês, sendo as primeiras, quero começar com uma música cantada na nossa língua, mas também uma num idioma estrangeiro.

Klepht
Klepht

A primeira é uma música dos Klepht, chamada “21/6”. Esta música já tem algum tempo, mas é, a meu ver, das melhores desta banda e é bastante boa para a estação que está a chegar: o Verão.

Já a segunda é uma música que dá para qualquer hora e é de uma banda que anunciou recentemente o seu regresso a Portugal, falo obviamente dos U2! Sugiro a música “Raised by Wolves” cujo videoclip foi realizado por Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils.

U2
U2

Até para o mês que vem, até lá cante, e dance, ao som das suas músicas preferidas.