O Inverno

Assombra a estação sobre a cabeça. Os tons arrefecem e escurecem e, no céu, empurram-se as nuvens poderosas de gotas latentes, chama o Inverno. Arrumo os trapos, a casa, a mente. Embala a alma a chuva batente. Abro as gavetas dos armários, tiro o pó às mantas, às memórias e à roupa quente.

Dou um gole num chá morno de jasmim, arrepiada pela geada pendurada no inverno da aurora. Suspiro a saudade num bafo esfriado e ganho a força de espreitar lá fora.
Pelas ruas, escutam-se os sinos em festa e os passos de sapatos pesados e cansados de pés gelados. Desviam-se os cheiros do pingo do nariz, e sentem-se as lareiras acesas e o inverno entranhado no ar, nas paredes e nas lãs.

Treme o corpo à noite, desfigurado por todo um dia chuvoso e ventoso, desejoso por um banho acalorado – e um chocolate quente no sofá, num cobertor enrodilhado em laço.

O Inverno traz o frio e o frio pede aconchego, o mimo, os amigos, a família, um abraço. Um beijo de saudade, um olhar cúmplice por entre um imenso espaço, o aperto de um carinho. O encosto do corpo no outro em ninho, o amor. A mão dada e a palavra certa mesmo sem o saber. O Natal vai e volta. E, estas sim, são as melhores ofertas que alguém pode ter.

Com o fim de um outro ano, brindamos com os que nos rodeiam e lamentamos os que nos deixam saudade. Largamos a bagagem que arrastamos para voarmos leves, frágeis, carregando apenas toda a esperança do mundo no bolso.

“É justamente a possibilidade de realizar um sonho que faz com que a vida seja mais interessante.”  | Paulo Coelho